Galeria de Arte Popular Brasileira



Mais que a importância objetiva dada a cada peça da “coleção”, hoje exposta no Espaço Saramenha, me envolve afetivamente sua busca. Atraíram-me as mãos e as casas de quem as fez, herança talvez de minha amizade com o artesão das onças e presépios, Mestre Arthur Pereira.

Em viagens por meu país, a trabalho ou nos tempos de folga, reservar espaço para conhecer os autores dessas ternas obras de um Brasil Profundo, me era e é absolutamente necessário. 

Branca era a casa de Arthur, é verde a de Nuca, amarelas a de Maria Amélia em Tracunhaém  e de Elias em Caruaru. Jamais as encontrei, muros, portas e janelas, “tom sobre tom”!

Fica no meio do mato a de Thiago Amorim, mesmo que em Olinda. Fica na encruzilhada para Amarantina a oficina e bar da Lourdinha, em grande choça a de Mestre Almerestino em Maragojipinho.

Foi difícil de inicio, deixar ver e fazer entender aos amigos que expor a seus olhos as peças que não estavam a venda em minha loja na Saramenha Artes e Ofícios, era uma gratidão aos que me haviam aberto os braços, escancarado as portas de suas casas, em geral suas oficinas.

Queria poder compartilhar meu Brasil com os amigos, mas também com os de outras terras que visitam Ouro Preto.  Nunca soneguei a qualquer deles, ao mostrarem admiração por alguma peça,  de onde vinha, seus preço na origem e como fazer para tê-la diretamente de seu artesão. Saíam muitos me pedindo para não expô-las se não a venda.

Talvez aí nasça essa Galeria de Arte Popular, na terra do Mestre Aleijadinho. Deixar a mostra peças deste Brasil, que talvez por tanta riqueza aqui, não o procuremos em outro lugar. Não as relaciono por importância, como não consigo dizer qual a leoa mais bonita, se a Benedito ou a de Jorge de Prados, sabendo que as dei, uma para Helena, outra para Mariana, minhas filhas. 

Me pergunto quem poderá dizer não ser arte popular o vaso de Santana, foz  do São Francisco, se nas bonecas de Isabel já detiveram  com admiração, seus olhos?

Salve Araçuai, Cachoeira do Brumado, Itatim e Passira. Salve Minas, Bahia, Pernambuco, Piauí...Brasil.

Em Caxambu, ao observar um artesão de frutas em madeira colocar na maça que acabara de comprar, seu último detalhe, detalhe que a fazia perfeitamente igual as da natureza, não resisti e falei: - Na minha terra gente assim ia pró hospício de Barbacena!

O retrucar ao comentário veio rápido: - Meu pai foi prá lá e nunca mais voltou!

Não pude deixar de pensar que sua arte, seu oficio, provavelmente o salvaram de igual destino. Em silêncio, talvez a pedir desculpas, lembrei do mote de Emanoel Cavalcanti, poeta das Alagoas com o seu agudo e estridente “Viva o Brasil!” e berrei sem mais parar, o meu:

“Viva a Pátria Brasileira”